Treinador de goleiros guarulhense Iago Rocha ganha espaço no futebol chinês

Morador do Parque Uirapuru e com passagens por Flamengo e Guarulhos busca sucesso no futebol asiático

Iago Rocha em seus trabalhos com os goleiros do Codion United.
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Iago Rocha em seus trabalhos com os goleiros do Codion United.

Estamos muito acostumados a ver jogadores de destaque do Campeonato Brasileiro e brasileiros que se destacaram na Europa indo atuar no mais novo centro financeiro do futebol mundial, a China , como os casos de Hulk , que voltou ao Brasil para atuar no Atlético Mineiro , Renato Augusto, Paulinho, Anderson Talisca, Henrique Ceifador e muitos outros.

O que não é tão comum é vermos brasileiros que não ocupam cargos dentro das quatro linhas, mas que tem função tão importante quanto, indo para o futebol chinês e mudando totalmente a vida em todos os sentidos. Iago Rocha, guarulhense, morador do Parque Uirapuru, no Jardim Nova Cumbica, com apenas 26 anos, aceitou o desafio de trabalhar como treinador de goleiros do Codion United, da província de Jiangsu.

“Iniciei a carreira no futebol como atleta em meados de 2007, que foi onde comecei a levar a sério a possibilidade de ser jogador de futebol. Tive como referência o Rogério Ceni, Marcos e Dida nas brincadeiras de rua. Sempre após as defesas, fazia menção à eles. Em 2007 comecei num projeto social chamado A.C.E.L Uirapuru (Comunidade amigos do Bairro do Parque Uirapuru), depois tive passagens pelo Bandeirantes, ambos com o professor Lago”, disse Iago Rocha.

“Passando os anos comecei a me aventurar buscando realizar meu sonho fazendo avaliações nos clubes. Lembro-me da passagem no Pão de Açúcar, que se tornou o Audax. Acabei não ficando muito tempo pela estatura e depois fui aprovado no Barcelona do Brasil, que era sitiado em Guarulhos, treinávamos no campo da A.A. Macedo. Após um ano, todos os atletas foram inseridos no G.E. Mauaense, onde começamos a ser inseridos em competições no Campeonato Paulista e nacional, em competições de base com clubes de todo o País. Fiquei lá até 2012, onde tive a dura decisão de parar de jogar bola devido ao cenário em que já não via mais perspectivas e condições financeiras de continuar tentando e entrei no mercado de trabalho”, completou o treinador de goleiros.

O ínicio como preparador de goleiros

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Iago Rocha como preparador de goleiros do Flamengo de Guarulhos.

Mesmo com a decisão, ele não largou a bola e reencontrou velhos treinadores em 2015, quando, de fato, iniciou a carreira de treinador de goleiros. “Comecei a trabalhar como preparador de goleiros após servir a Aeronáutica na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos. Iniciei meu trabalho no E.C. Clube São Bernardo, que tinha como treinador Paulo Pedro e Vitor, que foram meus treinadores na base no G.E. Mauaense e me oportunizaram começar a carreira trabalhando com eles. Depois, tive curta passagem no Diadema ainda em 2015, Independente de Limeira, em 2016, A.D. Guarulhos, em 2017, Barueri Esporte Forte, Aces Sports Academy, Flamengo de Guarulhos e União Luziense, de Minas Gerais”, conta Iago.

Sobre as passagens nos times de Guarulhos, Iago Rocha diz que foi uma grande oportunidade de aprendizado na carreira e desenvolvimento de trabalho, já que trabalhou em um momento importante na história do Guarulhos e também do Flamengo, ambos relacionados à Copa São Paulo de Futebol Júnior.

“Tenho um carinho muito grande pelos clubes de Guarulhos. Trabalhei na A.D. Guarulhos no ano em que o clube voltou a disputar a Copa São Paulo de Juniores e foi uma sensação única o estádio cheio de guarulhenses, meus amigos e familiares torcendo pelos dois clubes da cidade. Lá também tive a oportunidade de fazer meu primeiro trabalho no profissional, uma experiência única de aprendizado”, recorda.

“Já no Flamengo, trabalhei em 2018, após sair do Oeste para um trabalho em Laos que acabou não dando certo por questões de visto. Foi uma experiência única poder trabalhar novamente na minha cidade. O Flamengo é um clube que vejo com possibilidade de ser um gigante pela ambição e seriedade no projeto e a dimensão de Guarulhos, além de sua torcida apaixonada que sempre se fazia presente nos jogos. Nessa passagem disputamos o Paulista Sub-20 e fomos o terceiro colocado nos Jogos Abertos do Interior, quando recebi a confirmação de vinda para China. Estávamos em reta final de preparação para a Copa São Paulo, o Flamengo foi muito bem sendo eliminado para o São Paulo no mata-mata”, completa.

Estudos

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O guarulhense fez parte da comissão técnica do Guarulhos quando o Índio voltou à disputa da Copinha, em 2017.

Iago Rocha é formado em Educação Física pela UNG (Universidade Guarulhos) e também realizou o curso de Preparação de Goleiros pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o que credencia ainda mais a carreira do jovem treinador de goleiros.

“Sou Formado em Educação física. Tive professores, mestres e doutores que me ajudaram muito no meu crescimento profissional. Às vezes buscamos algo fora, mas para quem conhece o nível dos professores da UNG sabe que são os melhores do País. O curso de Preparação de Goleiros da CBF é muito bom. Ele faz abordagem geral sobre os aspectos físicos, técnicos e táticos específicos aos goleiros desde a sua formação até a chegada ao profissional. Faz abordagens importantes sobre o crescimento e desenvolvimento, que é de suma importância para a formação de novos atletas. Conhecimento sempre vai ser uma das coisas mais importantes que devemos buscar”, exalta.

Com a realização do curso oferecido pela CBF é possível receber uma carta de recomendação para acompanhamento dos trabalhos de outros preparadores de goleiros em outro clube, no qual Iago Rocha se sente privilegiado em ter trabalhado com o preparador campeão Paulista pelo São Caetano em 2004.

“Pude realizar o acompanhamento dos trabalhos com o Fernando Zurlo, renomado preparador de goleiros campeão Paulista com o São Caetano em 2004 e que trabalhou com renomados goleiros como Sílvio Luiz, Fábio Costa e Luiz. Uma experiência única para mim, que estou apenas no começo da minha trajetória”, complementa.

Chegada na Ásia

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Guarulhense em seus trabalhos na equipe chinesa.

Na China, Iago Rocha conta como foi sua chegada e as dificuldades de morar em outro país, com cultura, idioma e culinárias totalmente diferentes, e tão longe do Brasil. Mas garante que se esforça para se adaptar o mais rápido possível nos seis meses em que está no novo território.

“Cheguei à China depois da indicação de brasileiros que trabalham aqui no clube. Mas cheguei aqui literalmente com muito trabalho e dedicação, sempre fui muito focado nos meus objetivos e as oportunidades começaram a aparecer naturalmente. No começo tudo é um choque de realidade: o idioma, a alimentação, assim como a rotina que é bem puxada. Ainda estou em processo de adaptação, porém, para me auxiliar, já comecei a estudar mais a fundo a cultura e o idioma. Aqui tudo é diferente, literalmente "outro mundo", disse o guarulhense.

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Sobre o Codion United, Iago Rocha relata a estrutura que a equipe chinesa oferece aos envolvidos no time, no que diz ser o sonho de todo clube do Brasil. “O clube em que eu trabalho é um clube em ascensão na China e já possui moradia para todos os atletas e comissão técnica. Os atletas moram e estudam no clube e o Centro de Treinamento conta com 11 campos, academia, refeitório e alojamentos”, revela Iago.

“O clube foi formado em 2011 e só tinha as categorias de base. Há dois anos iniciou a categoria profissional ao qual teve acesso no primeiro ano e agora aguarda confirmação para entrar no calendário nacional, na quarta divisão, semelhante a clubes que estão iniciando as atividades no Brasil. Eu trabalho atualmente nas categorias de base, nas categorias 15 e 17. O clube também tem outros preparadores de goleiros brasileiros que ainda não conseguiram retornar devido à pandemia”, completa.

Trabalhando e acompanhando de perto a evolução do futebol chinês, Iago Rocha diz que os chineses estão num processo de aquisição de alguns aspectos do futebol, já que os eles são exemplos de determinação e aplicação no esporte.

“É um futebol que vem se profissionalizando ao decorrer dos anos. Existem vários atletas e profissionais estrangeiros atuando aqui e ajudando a fortalecer o futebol. Com estrutura e investimento, eles têm tudo para entrar no cenário mundial muito em breve,  assim como já são em outras modalidades. Estão num processo de aquisição de repertório técnico e tático. Ainda são áreas que precisam desenvolver. Já nas questões psicológicas e físicas são exemplos. São muito dedicados e se aplicam muito diariamente”, elogiou.

Dificuldades na China

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Sobre a dificuldade e diferenças de cultura e culinária chinesas, Iago Rocha detalha algumas diferenças entre brasileiros e chineses, como o tratamento mais frio dos asiáticos, onde até o famoso e corriqueiro aperto de mão dos brasileiros é algo diferente na China.

“Cultura, no geral, é muito diferente. Muito raro aqui o aperto de mão, coisa que nós, brasileiros, fazemos em todos os lugares. Também o idioma. Os brasileiros têm o hábito de receber todos de fora da melhor maneira possível, tentamos compreender, ensinar, nos adaptarmos a realidade de quem é de fora. Aqui eles não se preocupam com isso”, relata.

“Na culinária, além de não ter feijão, o café, o tempero no arroz, a carne vermelha, dentre outras coisas. Alimentação no começo é um choque de realidade, tudo bem diferente, comemos bastante carne de porco, frango e peixe, além de muitos vegetais e uma espécie de sopa que tem em todas as refeições. Eles também não bebem água gelada, bebem água morna, coisas que para nós são totalmente diferentes. Aqui também tem muitos veículos elétricos com menos burocracia e câmeras em todos os lugares”, detalha Iago Rocha.

Futebol chinês

Sobre os dirigentes chineses, o guarulhense exalta a organização chinesa, mas também fala que a cobrança por resultados é uma marca dos asiáticos. “São profissionais muito organizados. O nosso diretor já trabalhou na seleção chinesa e já esteve algumas vezes no Brasil. Aqui a cobrança é demasiadamente grande em relação a resultados e desempenho”, disse.

Sobre os brasileiros em território chinês, Iago Rocha revela que há muita admiração pela nossa nacionalidade e ainda há muito respeito pelo nosso futebol. “Eles gostam muito de brasileiros. Onde passamos sempre olham com respeito e admiração. O legado do nosso país em relação ao futebol ainda é muito forte”, revela.

Recentemente, a China impôs aos clubes um teto de gastos e a retirada dos nomes dos investidores das equipes, causando uma reformulação econômica no futebol do país. Com isso, alguns times apenas mudaram o nome, outros encerraram suas atividades, fazendo com  que alguns jogadores ficassem livres no mercado, casos de Miranda e Eder, que jogavam no Jiangsu Suning. Mesmo assim, Iago Rocha acredita que o futebol chinês seguirá em crescimento.

“Pelo investimento que fizeram no decorrer dos anos acredito que o futebol aqui ainda vai continuar em crescente. Tenho como conclusão que eles estão apenas controlando os gastos e se organizando para não ocorrer como os clubes que fecharam as portas devido aos gastos descontrolados. Mesmo assim continuará sendo um mercado muito atrativo”, explica o preparador de goleiros.

Futuro

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Guarulhense Iago Rocha Pretende seguir no futebol asiático e buscar espaço também na Europa.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, Iago Rocha diz que vale a pena trabalhar, não só no futebol chinês, mas no futebol asiático como um todo, já que a Província de Jiangsu fica próxima do Mar da China e, ao atravessar, tem acesso a grandes centros do futebol asiático como Coreia do Sul e Japão, e a proximidade facilita a interação entre profissionais dos países.

“Minha cidade fica aproximadamente uma hora e meia de Xangai. Ainda não fui para a Coreia, porém, por essa proximidade, têm alguns treinadores e médicos coreanos no nosso time, tanto no profissional quanto na base. Tenho vontade de permanecer nesse mercado por mais tempo e conseguir dar uma sequência no trabalho, mas minha principal pretensão é um dia trabalhar no mercado europeu e num grande clube do Brasil. Vale muito a pena aqui, tenho, além de um salário muito melhor que no Brasil, uma estrutura e condições de trabalho que muitos clubes não possuem”, finaliza o guarulhense.