
A noite no centro de Guarulhos
voltou a ser dos que têm ou acreditam ter pulmões fortes. Ao menos na rua Tapajós
, na região central, a maioria dos comerciantes
abandonou as regras estabelecidas pela prefeitura e pelo Plano São Paulo
de retomada
consciente. Às 22h15 quase todos os comércios
continuavam abertos. De acordo com o governo do estado – e a prefeitura é obrigada a seguir as recomendações paulistas por determinação judicial – bares e restaurantes
podem funcionar por seis horas diárias, inclusive de maneira fracionada, mas devem fechar até às 22 horas.
Já era início da madrugada de domingo quando a reportagem do iG deixou o “ circuito das baladas ”. Dos comércios abertos na chegada da reportagem, apenas um havia encerrado as atividades do dia. Os demais funcionavam normalmente e admitiam o ingresso de pessoas após o horário, sem máscara . Um dos mais procurados pelos jovens boêmios tinha fila na porta de aproximadamente 80 metros. A extensão não era para manter o devido distanciamento de pessoas umas das outras, ao contrário, os grupos estavam muito próximos.
Questionado, o funcionário do estabelecimento mais procurado pelos jovens respondeu que a casa funcionaria madrugada adentro, sem saber que conversava com um repórter. “Vai fechar logo”, disse inicialmente em tom de brincadeira. O repórter então disse que ia tomar um banho e retornaria. Ouviu do interlocutor a seguinte resposta: “Pode tomar seu banho e voltar que dá tempo [de entrar na balada]. Aqui vai pelo menos até às 2 horas”. Em seguida pediu para interromper a conversa: “Deixa eu trabalhar, tenho muita gente para atender. Estou igual ao SUS , olha a fila”.
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Em julho a prefeitura fechou um desses estabelecimentos da rua Tapajós por perturbação do sossego e descumprimento das regras de flexibilização e aplicou quatro multas. A lacração durou menos de uma semana. Na primeira quinzena de agosto a Secretaria de Desenvolvimento Urbano ( SDU ), responsável pela emissão de licenças, alvarás e fiscalização dos comércios, informou a autuação de 53 estabelecimentos . Esses comércios ficaram fechados por um dia e depois voltaram às atividades.
Esse novo episódio de descumprimento das regras do Plano São Paulo e do decreto municipal que limita horários e estabelece redução da capacidade de atendimento dos comércios, além do uso de máscara pelos clientes, foi levado ao conhecimento da prefeitura. Até o fechamento desta reportagem a SDU não havia respondido aos questionamentos. Assim que a prefeitura se pronunciar a respeito a matéria será atualizada.
Boates
Em Guarulhos as boates e casas noturnas também funcionavam normalmente após às 22h. De acordo com o Plano São Paulo de flexibilização, esses estabelecimentos não têm permissão de funcionamento. Diferentemente dos bares e restaurantes , onde as pessoas querem ver e ser vistas, nos prostíbulos não se vê quase ninguém na entrada. Um segurança se aproxima e gentilmente oferece ao repórter a oportunidade de entrar. Ele também não sabia que a pessoa com quem conversava estava a serviço. Na conversa, explica sobre o funcionamento da casa, diz que naquela noite (de sábado) havia "bastante garotas, umas 15 ou 16", e que os valores do programa variavam entre R$ 80 (meia hora) a R$ 160 hora cheia.
Não muito distante desse local, funciona uma outra casa com o mesmo perfil. Um segurança igualmente desavisado informa que na casa tem umas 40 garotas. Uma olhada da entrada é o suficiente para ver uma multidão aglomerada, fumaça de cigarros e nenhuma pessoa com máscara.
No sábado, Guarulhos registrou 505 novos casos de contágios por coronavírus e desde o início da pandemia 1.145 pessoas haviam morrido oficialmente pela doença . Os maiores casos de contágio acontecem no centro, mas a maior mortalidade de infectados pela doença ocorre em bairros afastados, como na chamada região de saúde Pimentas/Cumbica.